sábado, 29 de outubro de 2011

Uma proposta de pracificação



pracificação, 1. processo que resulta na criação de espaços públicos autônomos. 2. transformar em praça determinado local aberto ou fechado. 3. percepção do espaço público e privado como potencial de convívio e vivência comunitária. 4. apropriação afetiva de áreas urbanas para fins coletivos.

O Projeto Ocupação Cultural é uma associação de agentes culturais que, desde novembro de 2010, constrói uma proposta de atuação política, cultural e estética junto a prédios ocupados e espaços em disputa na cidade de São Paulo. Engajada na construção de áreas de contato e reflexão, o Projeto Ocupação Cultural estabeleceu relações cotidianas de trabalho cultural em dois focos de resistência urbana no centro da metrópole: as ocupações São João e Prestes Maia. 

A ocupação São João acontece no antigo hotel Columbia Palace, um prédio de seis andares a poucos metros do cruzamento com a avenida Ipiranga. Quatrocentas pessoas fizeram do imóvel abandonado sua casa, construindo ali uma das ocupações mais organizadas da cidade. O edifício Prestes Maia apresenta desafios maiores: seus 1500 moradores se dividem em duas construções, uma de vinte e dois andares e outra de nove, multiplicando demandas e possibilidades de ação.

É nestes dois prédios que o Projeto Ocupação Cultural busca desenvolver uma constante reflexão social e humana a partir do contato direto entre o grupo e as comunidades que habitam estes espaços. As possibilidades de intervenção e reflexão que surgem deste contato são trabalhadas coletivamente em busca de uma proposta comum. Proposta essa que, até aqui, vem se desenhando na construção de núcleos culturais, espaços coletivos que aspiram ser praças e calçadas dentro dos prédios, que se propõem a cultivar vida e ideias. Os núcleos culturais são espaços conquistados recentemente e com uma programação em construção.

Os núcleos (e o Projeto Ocupação Cultural) estão dispostos a aprofundar e estimular iniciativas que busquem outros significados para a cidade e a relação com seus moradores, incentivando a troca entre diferentes agrupamentos urbanos. Entendemos que este contato cotidiano, perene, entre realidades diversas leva todos os envolvidos a ressignificar relações de espaço, propriedade e uso da cidade. Pretendemos, como resultados destes processos de transformação individual, desencadear propostas de ação e intervenção de mundo, estejam elas dentro ou fora das ocupações.

Atuando diariamente em espaços de fratura social relacionada à moradia e à lógica urbana, entendemos a necessidade de aprofundar conceitualmente nosso entendimento das dinâmicas de construção e reconstrução do espaço urbano. Como é possível haver tantos imóveis abandonados? A quem essa situação beneficia, por que ela se sustenta? Quais são e como operam esses ciclos perversos que alienam centenas de milhares de seu direito à cidade? Qual é o papel do capital e do poder público nesses processos?

Visita a Ocupação Consolação